Marcelo Déda Chagas nasceu em 11 de março de
1960, na rua Cônego Andrade, 182, na cidade de Simão Dias, situada a 110
km de Aracaju. É o mais novo de uma família de cinco irmãos, cujos pais
são o senhor Manoel Celestino Chagas (falecido) e dona Zilda Déda
Chagas.
A infância
de Marcelo Déda em Simão Dias foi marcada pelas brincadeiras de rua,
cuja relação com a natureza era muito forte. Os brinquedos eram
comprados dos artesãos ou fabricados pelas próprias crianças. A
principal característica dessa época era a vida ao ar livre, em um
período que a violência não era algo ameaçador.
Durante
os anos de ensino fundamental, Déda frequentou uma das instituições
mais tradicionais do interior de Sergipe - o Grupo Escolar Fausto
Cardoso - na Praça Barão de Santa Rosa em Simão Dias. Em 1969, seus pais
foram morar em Aracaju e o caçula continuou no interior com sua tia
Eunice Oliveira. Mulher muito religiosa, foi responsável pela formação
católica do sobrinho que chegou a ser coroinha ao lado do Monsenhor João
Barbosa, na Matriz de Nossa Senhora Sant'Anna.
Déda
ajudava nas missas e nos ritos. Ele relembra com carinho histórias que
marcaram essa fase. "Meus amigos sempre diziam que o espírito do Padre
Madeira, que havia sido enterrado na própria igreja, aparecia para as
pessoas que estivessem lá. Por isso, eu tinha muito medo de fechar as
portas do templo, quando todos já tinham ido embora, e de ser o primeiro
a chegar, às 5h30 da manhã, para bater o sino".
Em
1973, aos 13 anos, ele deixou a cidade para estudar em Aracaju, no
Atheneu Sergipense, tradicional escola pública. Sua família se instalou
no bairro São José, onde seus pais moram até hoje. A paixão pela
literatura veio mais tarde, aos 15 anos de idade, quanto teve contato
com a biblioteca do avô José de Carvalho Déda, um autodidata conhecido
como Zeca. Apesar de ter convivido muito pouco com o avô, pois ele
morreu quando Marcelo
Déda tinha apenas oito anos, as influências foram decisivas na sua formação.
Escritor
e jornalista, Zeca Déda havia sido eleito três vezes deputado estadual.
Nos anos 50, no entanto, encerrou sua participação política. O menino
Déda ainda nem havia nascido. Apesar de não ter convivido com o avô
nesta época, o seu senso de justiça foi transferido para o neto, que
começou a coletar depoimentos sobre o avô e a ler seus livros discursos
registrados em diários e jornais. "Mesmo ausente meu avô teve uma grande
influência no meu caráter. Ele me deixou um grande legado", conta
orgulhoso o governador.
Déda
estudou no Colégio Atheneu até a conclusão do 2º Grau. Nessa fase,
conheceu Edgar Barbeiro, um comunista que, para ele, se confundia com a
esquerda de Sergipe. Começou a ler os livros de Jorge Amado, textos de
esquerda e acompanhar a eleição de 1974. Foi o início da sua paixão pela
política, alimentada pela leitura de jornais alternativos da época como
"Pasquim", "Movimento" e "Opinião".
O primeiro movimento reivindicatório que Marcelo Déda participou e a primeira greve aconteceram no Colégio
Atheneu
em 1979, quando ele mobilizou os colegas do terceiro ano contra a
compra da farda de gala no final do antigo 2º grau, período em que os
alunos já estavam deixando a escola, por considerar um desperdício tal
investimento só para o desfile de sete de setembro. A união entre sua
turma e a turma da manhã culminou numa suspensão e todos foram obrigados
a desfilar no dia comemorativo, mas com a farda comum.
Ainda
no Atheneu, Déda engajou-se nos movimentos culturais. Em 1977, foi
presidente do cineclube do Colégio Atheneu Sergipense. Foi cineasta
amador na Bitola Super/8mm, e em 1979 chegou a ser condecorado com o
Prêmio Especial do Júri no Festival de Cinema Amador de Sergipe. Na área
cinematográfica, fundou com amigos o Cine Clube do Diretório Central
dos Estudantes (DCE) já na Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde
cursou Direito entre os anos de 1980 e 1984.
Sua
militância política teve início no Movimento Secundarista. Apesar de
aprovado em segundo lugar no vestibular de Direito da UFS, antes de
escolher este curso, Déda pensou em estudar Jornalismo e Psicologia, que
não existiam na época, e também História. Seu contato com o DCE da UFS
foi feito na época de existência do grupo político estudantil de
esquerda chamado Atuação. Em 1978, Déda já frequentava os seminários, as
conferências e os congressos que o DCE promovia.
Ainda
no Atheneu concorreu ao Centro Cívico com a chapa Ação, e foi
derrotado. Sem mandato, ele montou, com outros jovens de escolas
públicas e privadas, um grupo que tinha o objetivo de reconstituir o
Movimento Secundarista e a sua principal entidade, a USES (União
Sergipana dos Estudantes Secundaristas), na época proibida pelo Regime
Militar.
Em 1979,
começou a trabalhar com seus companheiros na criação do PT (Partido dos
Trabalhadores), durante a reforma partidária no final do governo
Figueiredo.
O DCE foi o início de uma
militância mais ativa, articulada e fundamentada na política. Neste
período, ele conciliava os estudos, o trabalho e a militância no
Movimento Estudantil e na Fundação do PT. Trabalhou como professor de
Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e Educação Moral e
Cívica (EMC) e foi estagiário do Banese.
Um universitário com sede de conhecimento
Na
Universidade, Marcelo Déda viveu com uma geração de professores
extraordinários dentre os quais sempre destaca Luiz Alberto dos Santos,
Josué Modesto dos Passos Subrinho, professor de Economia e ex-reitor da
UFS; Adélia Moreira Pessoa, professora de Introdução ao Estudo do
Direito; e Ibarê Dantas, professor de Ciências Políticas, historiador e
atual presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).
Com
Ibarê, Déda conheceu Gramsci que, segundo ele, foi fundamental para
mudar sua imagem de mundo e entender melhor a disputa política no
Ocidente. "Meu modelo de pensar resistiu intensamente a incorporar esses
novos valores e a trabalhar com essas novas categorias. Porém, na
prática de construção do PT, aprendi a valorizar intensamente os
ensinamentos gramscianos e de outros chamados marxistas heterodoxos,
pessoas que pensaram o marxismo e o socialismo por outros paradigmas".
Marcelo
Déda aliava os debates, os estudos e os conhecimentos acumulados à
prática, e à luta do povo brasileiro por democracia, liberdade e pelo
fim do Regime Militar. Enquanto estudante, Déda também esteve engajado
nos movimentos sociais daquele período. Apoiou os índios Xocó; e em
Santana dos Frades esteve ao lado dos posseiros expulsos por fazendeiros
na Coroa do Meio, bem como na luta contra a destruição das barracas dos
pescadores.
Para
Marcelo Déda, a Militância Estudantil não podia ser meramente
corporativa, mas global. Seu foco seria na universidade, com a
militância vinculada diretamente às lutas do povo pela derrubada da
ditadura no Brasil e pela construção de um país justo e igualitário.
Déda e a fundação do PT
Com
uma câmara Super 8, Marcelo Déda filmou em 1981 a segunda visita de
Lula ao Estado de Sergipe. A primeira deu-se em 1978, quando o atual
presidente da República ainda era dirigente sindical. No carnaval de 81,
também filmou toda a luta de Santana dos Frades - os jagunços armados, a
retomada dos posseiros, a missa rezada por D. José Brandão.
Nesse
período também ocorre a fundação do PT. Esses filmes são exibidos no
interior de Sergipe ou em Aracaju. As pessoas assistiam às cenas e a
partir dessas exibições faziam os debates.
"O
Movimento Social de maior peso que apostou na construção do PT, foi o
Movimento Estudantil da UFS, na época dirigido pela tendência Atuação,
que tinha derrotado em duas eleições consecutivas o pessoal que
articulava com a chapa Construção, vinculada ao PCB, na época", relata.
Em
1982, na primeira eleição do PT, Déda é lançado candidato a deputado
estadual. Estava com 22 anos e obteve apenas 300 votos. "A prática
mostrou que a política não era tão fácil assim. Não basta você ter
certeza da sua verdade, é preciso que as outras pessoas acreditem nela".
Entre
1980 e 1981, Déda foi aprovado em concurso para trabalhar no CREA
(Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura). Dividido entre o
trabalho, os estudos, a militância política e a família, ele reduz
significativamente sua militância no Movimento Estudantil, saindo do DCE
e passando a atuar no CONSU (Conselho Universitário) e no CONEP
(Conselho de Ensino e Pesquisa). "Foi a primeira vez que ocupei uma
cadeira num ‘parlamento'", diz brincando.
Em
1984, explodiu a campanha das Diretas. Naquele momento, Marcelo Déda
ingressou no processo de mobilização e começou a participar de comícios
em todo Estado. Para ele, o Brasil descobriu nessa campanha que era
possível fazer política com alegria, sem ódio. No dia 26 de fevereiro de
1984, um comício reuniu mais de 30 mil pessoas em Aracaju com as
presenças de grandes nomes da política brasileira como Lula e Ulisses
Guimarães.
Déda é
pai de cinco filhos, sendo três filhas (Marcela, Yasmim e Luísa), do
primeiro casamento, e dois filhos (João Marcelo e Mateus), fruto de sua
união com a repórter-fotográfica, Eliane Aquino, primeira-dama do
Estado, que sempre marcou sua atuação pela defesa dos direitos das
crianças e dos adolescentes menos favorecidos. No Governo de Sergipe, é
secretária da Inclusão Social e responsável pelo Comitê de Políticas
Públicas Integradas, que cuida da integração dos projetos na área
social.
Déda e o sonho de um Sergipe Novo
Em 1985, acontecem as eleições para prefeito em Aracaju. A conjuntura política da época foi determinante para
que
o PT resolvesse lançar Marcelo Déda, aos 25 anos de idade, candidato a
prefeito de Aracaju. Todos os dias, às 11 horas, ele saía para fazer o
horário eleitoral ao vivo por conta das dificuldades financeiras. "A lei
me facultava fazer ao vivo, então eu ia cru, pregava uma bandeira com
durex e estava pronto o cenário do ‘ao vivo'. Aquilo que era uma
desvantagem virou uma vantagem porque me transformei no âncora do
programa eleitoral, comentando criticamente o programa dos meus
adversários".
A
campanha decolou. Segundo Déda, era impressionante a quantidade de
jovens em busca de material do partido. Com apenas 5 mil cartazes e um
Passat, funcionando como carro de som, vários atos e caminhadas foram
realizados. Marcelo Déda conquistou o segundo lugar nas urnas com
aproximadamente 19 mil votos, levando petistas e não-petistas à passeata
de comemoração pelas ruas da cidade.
Um
ano depois de concorrer pela primeira vez nas eleições municipais,
Marcelo Déda é eleito deputado estadual com mais de 32 mil votos. Em
1990, quatro anos depois da votação estrondosa, Déda conseguiu apenas
10% disso e não se reelegeu. Em 1994, porém, voltou às campanhas
eleitorais e candidatou-se à Câmara Federal, sendo eleito deputado com
26 mil votos, o último de uma bancada de oito. A reeleição veio em 1998
com 83 mil votos, a segunda maior votação proporcional do Brasil.
Na
Câmara Federal teve atuação destacada, com grande presença nos debates e
inserção na mídia nacional, chegando à liderança da bancada do PT e do
Bloco de Oposição.
Em 26 de maio de 2000,
Marcelo Déda ingressa no processo eleitoral como candidato a prefeito de
Aracaju, sendo um dos últimos colocados nas pesquisas. Contudo, a
campanha decolou e Déda começou a crescer nas pesquisas, ganhando a
eleição ainda no primeiro turno, com 52,80% dos votos válidos, ao lado
do então vice-prefeito Edvaldo Nogueira.
A
gestão municipal de Marcelo Déda levantou as bandeiras da participação
popular e da inversão de prioridades, que, através de ações articuladas,
tornaram-se marcas da sua administração. Para o então prefeito, o
grande desafio era implementar um modelo de governo que não esquecesse
os mais pobres, desenvolvendo políticas públicas de inclusão social. Era
a periferia aos poucos mudando de cara. Era a cidadania acessível a
todos, sem que se abandonasse os bairros ditos nobres, conservados com
zelo.
Déda também
consolida a atuação em defesa dos interesses dos municípios brasileiros,
que já havia sido demonstrada enquanto ainda era deputado federal, se
alinhando aos prefeitos de todo o Brasil em manifestações que chegaram a
ser reprimidas no Palácio do Planalto, pelo governo de então. A atuação
destacada leva o então prefeito de Aracaju a assumir o comando da
Frente Nacional de Prefeitos (FNP), que redefiniu o poder de
interlocução dos municípios junto ao Governo Federal, com reflexos até
os dias atuais.
Em
2004, Déda foi reeleito prefeito de Aracaju com 71,38% dos votos
válidos, o que lhe garantiu a vitória com ampla vantagem sobre a segunda
colocada Susana Azevedo (PPS), que ficou com 18,05% dos votos válidos. A
vitória ficou marcada na trajetória política de Déda, o prefeito eleito
no primeiro turno com o maior número de votos, proporcionalmente, no
país. Os princípios de sua primeira gestão continuaram a direcionar as
ações do governo municipal. Em cinco anos e três meses, Marcelo Déda
transformou Aracaju na capital nordestina da qualidade de vida, conforme
pesquisa da Fundação Getúlio Vargas.
No
dia 31 de março de 2006, Déda renunciou ao mandato de prefeito de
Aracaju para encarar a disputa pelo governo do Estado. Em vitória
histórica, que simbolizou uma mudança no cenário político sergipano,
Marcelo Déda é eleito governador do estado de Sergipe com 52, 48% dos
votos, ao lado do vice-governador Belivaldo Chagas, também simãodiense.
Em sua bagagem política, o atual governador coleciona títulos, mas se
orgulha, sobretudo, de ser ator da transformação social, e líder de um
grande desafio: construir um novo Sergipe.
"Podemos
hoje, sergipanos de um novo tempo e de um novo século assumir o desafio
de retirar as pedras do caminho e abrir novas estradas para o
progresso, a paz e a prosperidade, usando com a simplicidade dos sábios,
os mais singelos dos instrumentos de que o criador nos dotou: 'duas
mãos e o sentimento do mundo.'" (Trecho do seu discurso de posse na
Assembleia Legislativa, janeiro de 2007).
Em
2010, Déda foi em busca da reeleição, tendo como vice-governador, seu
fiel amigo Jackson Barreto de Lima, objetivando dar continuidade ao
projeto de Governo que vinha dando bons frutos e sendo abraçado pelo
povo sergipano. Como consequência do trabalho, o resultado do pleito em
outubro daquele ano não foi diferente: Déda reeleito com 52,08%,
transformando-se num dos maiores governadores que Sergipe já teve.
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